30 de janeiro de 2004

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OSHO 2
Debate mensal. Um primeiro-ministro defende-se das acusações de uma oposição barriguda perguntando "que governo teria interesse em ter contra si 700.000 funcionários públicos?". Eles berram-lhe com a sobranceria dos irresponsáveis que se estão a cagar para as evidências.
Um pouco depois, a câmara da Sic Notícias apanha uma (ainda) ministra da Justiça a desfazer-se em sorrisos enquanto persegue (já de cigarro na boca, dentro do hemiciclo...) uma ministra das Finanças que lhe vira as costas e o seu próprio egocêntrico patrão partidário que lhe faz o mesmo. Se fosse preciso pôr legendas neste quadro seria "Companheira, amiga, palhaça: estás out!"

No rodapé do jornal da tarde, a notícia da união da maioria contra tudo o que toque a despenalização do aborto. A necessidade de manter o apoio do reaccionário partido da direita obrigará o PSD a calar a sua consciência. E a calar as 120.000 vozes que pediram, por escrito, um novo referendo.

"Esqueça tudo o que lhe disseram sobre "Isto é certo e aquilo é errado": A vida não é assim tão imóvel. Aquilo que é certo hoje pode ser errado amanhã, a coisa que é errada neste momento pode ser certa no momento seguinte, (...) A vida não é uma farmácia once cada frrasco está rotulado e se sabe o que é o quê. A vida é um mistério: numa determinada altura tudo se ajusta e então é certo; numa outra altura, correu tanta águapelo Ganges abaixo que deica de se ajustar e é errada."
idem, ibidem
OSHO 1

Numa das palestras do filósofo indiano que dá o título a este post, reunidas em livro sobre o título "Coragem", afirmou o seguinte:
"Coragem significa entrar no desconhecido, apesar de todos os medos. Coragem não significa temeridade. A temeridade acontece se você continuar a ser cada vez mais corajoso. Essa é a experiência última da coragem - a temeridade: é essa a fragrância quando a coragem se tornou absoluta (...) ao princípio não há grande diferença entre o cobarde e a pessoa corajosa. A única diferença é que o cobarde escuta os seus medos e segue-os, e a pessoa corajosa afasta-os e segue em frente.(...) entra no desconhecido apesar de todos os medos. Ela conhece os medos, os medos estão lá.(...) Estava perfeitamente bem; faltava-lhe uma única coisa - a a ventura. Entrar no desconhecido fá-lo vibrar. O coração começa novamente a pulsar, você está novamente vivo, plenamente vivo..."

29 de janeiro de 2004

HOMENAGEM
E por falar na religião oficial do burgo, só há pouco reparei como se chamava a rua que encima o Parque Eduardo VII : Alameda Cardeal Cerejeira.
Ora até que enfim, uma justa homenagem.
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WHERE'S MY BLEDINE?
A geração de pais cinquentenários queixa-se à boca cheia desta nova geração maioritariamente constituída por meninos e meninas que esperam que tudo lhes caia no colo. Têm razão. Mas são os mesmos que se queixam de que o Estado (ou seja, o Governo - já que ninguém lhes explicou que o Estado é constituído por eles e por nós todos) não lhes DÁ o suficiente para cobrir todos os seus encargos. No outro dia, numa manifestação, um Auxiliar de Acção Educativa, vulgo, Contínuo, vulgo Não-Mexo-Uma-Palha, afirmava lacrimoso "ter que trabalhar em biscates fora das horas de serviço (!!!) para dar conta dos seus múltiplos encargos". Calculo que não existiria por perto uma boa alma para lhe perguntar se alguém o tinha OBRIGADO a contraír esses encargos. E por que raio os restantes 10 milhões de indivíduos o deveriam subsidiar.
Num país em que a Igreja Católica continua a afirmar ufana que a maior parte das pessoas se casam e procriam no seu seio, é estranho andar toda a gente a chamar pelo Pai...

28 de janeiro de 2004

MUSEUS
Os nossos museus continuam muito antigos. Renova-se a forma de expor e de iluminar, mas permanecem alguns desconchavos crónicos. E não estou a falar só das senhoras e senhores pré-reformados que se sentam nas cadeirinhas com ar aborrecido. Falo dos detalhes que transmitem uma imagem moderna e atraente para as gerações mais vivas.
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O museu dos coches, por exemplo, onde estive este fim-de-semana, que tem um espólio riquíssimo (cada veículo é mais espectacular que outro, lembrando-nos que o D. João V poderá ter sido um esbanjador, mas que magnífico esbanjador ele foi...), e que proíbe fotos no seu interior, tem para venda, alguns dos mais piolhosos postais de que tenho memória. Chega a ter fotos quadradas, onde por virtude da retangulação do postal se acrescentaram lados brancos... Fotos pindéricas que sugerem a impressão clandestina de panfletos proibidos.
A colecção dos Jerónimos, não é melhor. Ali, contudo, já podemos encontrar alguns produtos de merchandising decentes, com uma colecção desenhada por um ateliê, colorida e com qualidade.
Ficamos sempre com a ideia que se estas instituições se esforçassem, poderiam ajudar a aliviar a factura da sua manutenção. A mesmíssima factura que os levou a ameaçarem com o fecho aos sábados e domingos, algum tempo atrás. Basta que apostem em nos tratarem bem enquanto visitantes e isso inclui uma loja com material didáctico e lúdico de boa qualidade.
OLÁ AMIGUINHOS, TOMEM LÁ UM KONIEC
O Francisco Nunes refere e bem que muito tínhamos nós de aturar ao Vasco Granja para termos direito a um Bugs Bunny ou um breve Speedy Gonzalez. As secas do National Film Boring of Canada que não tivemos de sofrer, irmanadas na tortura por lendas do mundo contadas em sombras chinesas animadas! Ainda tremo ao pensar naqueles Kama-sutras que sem exercer aquilo que poderia eventualmente despertar algum interesse, nos "aborriam" de morte...
Acontece que o Vasco Granja tinha um espaço para gerir. Onde, segundo creio, podia meter a animação que entendesse. E ele, naturalmente preferia o Norman McLaren aos autores do Tom e Jerry. A confusão derivava da forma como o programa era embrulhado, como um produto infantil. E lá ficávamos nós, as crianças da pouca escolha, à espera que ele se cansasse de ouvir falar polaco ou canadiano.
Nunca se cansou, raios o partam! A intenção era capaz de ter sido pedagógica, contudo...

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27 de janeiro de 2004

PING!PING!ping...

Os campos hão-de estar contentes. Muita águinha em cima das couves e das searas.... Os sapos também coaxarão, felizes, por certo, com as cabecinhas viscosas viradas para o céu cinzento.
Agora o pessoal que está aqui, a sofrer no meio do cimento, é que dispensava esta abundância pluvial. Só espero que o Santana Lopes vá depressa numa das suas viagens sociais a Londres, ou assim, e um colega bem vestido lhe confidencie que se comercializa uma máquina que faz parar a chuva nas capitais mais in...

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Enquanto isso não chega, lá vou despachando as desgraças quotidianas que parecem vir sempre agarradas às nuvens... (suspiro) (bem-humorado, contudo)

25 de janeiro de 2004

STANDING OVATION

Vou menos vezes ao teatro do que gostaria. Daí que tenha levado algum tempo a aperceber-me do comportamento das novas plateias. Não me refiro ao hábito recentemente desenvolvido de rir DE TUDO o que os actores dizem (o que, segundo alguns me confidenciaram, os deixa exasperados). Refiro-me ao Aplauso em Pé.
Num passado recente, as pessoas aplaudiam o final das peças sentadas. Se a coisa tivesse valido a pena, mantinham os aplausos e os actores regressavam ao palco para agradecerem. E EM CASOS EXCEPCIONAIS, o público levantava-se e aplaudia de pé. Era a sua forma de dizer obrigado a qualquer coisa de muito bom.
Agora, não.
O maralhal começa por aplaudir de pé. E depois, mal a coisa esmorece, atropelam-se para a saída. A despachar. Como quem diz "Ya, Ya, foi fixe... Agora se me dás licença vou ali e já venho...".
Enfim...

24 de janeiro de 2004

JOUR DE FÊTE

Ao contrário dos 10% que o Governo costuma anunciar, esta greve da função pública deve ter tido uma adesão muitíssimo superior. A caminho do Sul encontrei centenas de indignados trabalhadores que arrastavam atrás dos carros, os botes de borracha com motor, a caminho das barragens. Outros iam virando para as estradas secundárias, para protestarem na calmaria dos montes alentejanos o absurdo de não serem de novo aumentados.

Na Tsf, uma sindicalista defendia várias coisas, a saber, "que nem estavam contra o congelamento dos aumentos, ou contra a necessidade de reestruturação dos serviços, ou outra coisa qualquer... O que achava insuportável era que não os tivessem consultado A ELES, sindicatos, para que as aprovassem...

Uma trabalhadora próxima confidenciou-me que não achava que a greve servisse para qualquer coisa. Mas como todas as suas colegas tinham feito, caso ela tivesse dio trabalhar teria de alombar com o serviço todo, além das reclamações dos utentes. Daí que, no seu local de trabalho a adesão tenha sido total.

Enfim, cada um saberá de si...

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Carris - em greve desde 1911

22 de janeiro de 2004

LER É MAÇADA, ESCREVER É NADA...
Hoje lembrei-me da conversa mantida em baixo sobre a necessidade de separar o ensino da Língua do da Literatura. Na Nobre tentativa de evitar o aviltamento das duas...
Um responsável (ainda jovem) de um jornal expressou-me com vigor o horror que sentia perante a visão de duas (2) páginas de ficção impressas numa revista. "Ninguém quer ler 7000 caracteres de ficção". Eu concordei, resignado, já que por "ninguém" ele queria dizer "a maioria dos portugueses".
Escusava era de ter comentado com algum respeitinho que "X, desde que apareceu num programa ao lado do Saramago, passou a ser considerado como um peso literário". Afirmou isto, não porque achasse a escrita do referido autor interessante, ou sequer pelo facto de o ter lido. Não: "Apareceu (verbo mágico, em 2004) ao lado de... então...".
Começo a dar razão ao desconsolo furioso do Mário de Carvalho...
Tirem-me deste filme.

20 de janeiro de 2004

ELEIÇÕES CAMARÁRIAS
Espero que as eleições para a câmara de Lisboa sejam disputadas entre Santana Lopes e Carrilho. Dois monstros da cultura.
Em vários sentidos.
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TO THINK OR NOT TO THINK
Segundo os mentideros , o primeiro-ministro estará de acordo com a despenalização do aborto... em 2006. O que é uma coisa maravilhosa. Saber o que vamos achar DAQUI A 2 ANOS é um acto verdadeiramente visionário. Quem me dera. Já me estou a imaginar a pensar: "Em 2012 vou passar a gostar de caviar", porém... "em 2013 vou achar que me faz gases".
O nosso Primeiro é a taróloga Maria Helena das opiniões. Continue assim, meu anjo!
M. SEND
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TÓÓIIIINGGGG!!!
Sou só eu que acha que os dias são elásticos? Quanto mais coisas fazemos mais nos apetece fazer? É o contrário de passar o dia enrolado no sofá a babar para a televisão.
Diabo... Ou me engano muito ou a Primavera este ano bateu-me mais cedo ;)

18 de janeiro de 2004

PAPA DIXIT
O Papa lá levantou a cabeça para murmurar que até não lhe parecia mal que os deficientes tivessem sexo.
A sua próxima medida consiste em afirmar que aquilo que os meninos acólitos trazem pendurado não é um incensório, apelando aos milhares de padres que insistem em o moverem repetidamente de trás para a frente dizendo, "Ai, Meu Deus! Nossa Senhora que Bom!", que parem de o fazer. Ou pelo menos, tão amiúde...
Se não fossem estas intervenções, nem sei como orientaríamos as nossas vidas.
Notícias do PBI (Portuguese Bureau of Investigation)
Na vaga de moralização que varre o país, parece que foram acusados alguns médicos de desviarem clientes das eternas listas de espera para as clínicas privadas. NÃO...!!! Estou chocado. Uma coisa nunca vista. E até mesmo impensável. Médicos que usem os gabinetes hospitalares como sala de demonstração do que eles SÃO CAPAZES DE FAZER no seu próprio consultório, é coisa que nunca aconteceu. Tenho a certeza.
Aliás, as histórias que me chegam sempre que me afasto deste centro neurótico a que chamamos Capital (alguns chamam-lhe Kapital, é certo...) são todas falsas.
Tão falsas como a história das ligações aos laboratórios. Não senhor, nem pensar...!
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BULLY

Para os mais distraídos (e que tenham acesso aos cinemas onde passa, já que isto das recomendações é muito giro, mas quando se mora em Penacova é difícil aceder aos ciclos do cinema King...) está aí o novo filme de Larry Clark. O mesmo que fez o "Ken Park" (de que encontram referência algures nos arquivos do blogue). Como sempre, o realizador deixa-nos atordoado com o vazio que encontramos na cabeça das suas personagens. Vazio e dor. Pressão e ausência dos pais. Asneira certa, a que se segue a impiedosa "Justiça" americana com o seu arsenal de prisões perpétuas em resmas e cadeiras eléctricas para os cidadãos que não conseguiu manter compensados. Uma América tocada a charros e pastilhas, acelerada e simultaneamente à espera. Do seu fim, provavelmente.
LER NA ESCOLA
Arrisco-me a ficar repetitivo. Mas ao ver aquela professora de português (ainda não fixei o nome) a bater-se pela literatura no ensino, sinto-me na obrigação de voltar à carga.
Já afirmei várias vezes que considero o modelo de escola como insistimos em manter no nosso país como acabado. Não resulta. Já não resulta. A desresponsabilização dos pais e o desaparecimento da figura tutelar, bem como o fluxo de informação fragmentada, conduziu a gerações tão à solta que não se lhes pode pedir que fiquem sentadas a escutar com enlevo. Sobretudo não se pode pedir aos professores que OBRIGUEM esta gente a ouvir, quando o modelo que trazem de casa é outro. Um professor conduz ao conhecimento. Poderia conduzir ao "saber estar", se os programas incidissem prioritariamente sobre o assunto, nos primeiros anos mas não o pode fazer, quando tem de chegar ao final das convulsões novecentistas, fazer-se ouvir por cima dos sinais de mensagens e puxar ao mesmo tempo as criaturas do fundo acnoso onde caíram. Outra escola, virada para o desenvolvimento de competências intrapessoais e interpessoais poderia fazê-lo. Esta, não. Contudo, como ninguém parece estar interessado em mudar as coisas radicalmente, talvez possamos falar sobre os programas actuais.
A professora tem razão: os programas de português foram feitos por pessoas que não gostam de Literatura. Ou, pelo menos, não lhe avistam outra coisa que o lado prático, para transmitir o que diabo é uma metonímia ou outra coisa qualquer com nome de xarope para tosse.
Enquanto escritor, protesto! Não escrevo livros para que gente que não faz ideia do que é viver por umas horas ou dias na pele de uma personagem diferente de nós, me conspurque as frases obtidas a ferros com divisão de orações. Nem mesmo para os que entendem, mas que por razões úteis são forçados a lidar com estes manuais. Merda para as orações sobre as frases feitas para serem "escutadas". Sobre as frases feitas para abrir as portas do mundo. Sobre aquilo que existe para ser partilhado como um prazer. Merda para os determinantes e para as figuras de estilo, para a conjugação verbal e para todas as teorias (ultrapassadas em todo o mundo, excepto no Bangladesh) que tentam impingir às criancinhas. Façam-no sobre o que quiserem, mas sobre a Literatura, não! A Literatura lê-se. Não se impinge como prontuário.
Na verdade, trata-se apenas de uma questão de bom senso. Redigir textos puramente utilitários para explicar o funcionamento da língua não é complicado. Custa mais caro do que "picar" os textos dos escritores (que não vêem um cêntimo dos milhões de euros que engordam as editoras escolares) mas seria mais funcional.
Se os ministérios não estivessem cheios de damas incompetentes e funcionários que subiram a golpes mesquinhos na carreira, dirigidos por políticos que foram para a educação porque não eram suficientemente interessantes para a chegarem à Economia ou às Finanças, onde o poder se joga verdadeiramente, isto seria uma EVIDÊNCIA.
Já para não falar na razão porque continuamos a atormentar gerações inteiras com autores mortos, alguns de discutível qualidade literária, enquanto a noção de contemporaneidade começa em Agustina (que tem 80 ANOS!). Na vizinha Galiza, os livros de escritores recentes são lidos e discutidos, num diálogo vivo com os autores. Aqui não. Tomem lá com o Herculano... e descubram o Sintagma Nominal...
Oh, valha-me Deus...
OS ELOGIOS
Toca o telefone no domingo à tarde. O número desconhecido era de um conhecido que se queria manifestar solidário e agradado como o que eu tinha escrito num jornal.
Fiquei à toa, com aqueles mmm, mmmm, de quem não sabe o que responder. O mesmo que aparece quando alguém se levanta da assistência, no fim de uma sessão ou encontro ocasional, para afirmar que lê com agrado o que vou modelando nas minhas histórias...
Vivemos numa sociedade tão estúpida que já nem sabemos lidar com o elogio desinteressado. Aquele que não nos pedirá promoção no emprego, livro recomendado à editora ou uma boa nota no fim do ano.
Talvez seja tempo de começarmos a demonstrar aos outros que achamos haver coisas que eles fazem bem feitas. Digo eu...

14 de janeiro de 2004

O DN ERROU
Ninguém me pediu para fazer isto, mas gostaria de corrigir uma gralha publicada na edição de hoje do Diário de Notícias. Na notícia referente ao glamoroso sucesso do lançamento do livro de Pedro Santana Lopes e dos seus feitos culturais (a pala do Sporting, o concerto para violinos de Chopin, os agradecimentos ao Machado de Assis, esse grande contemporâneo brasileiro...), cita o referido intelectual da seguinte forma: "«Deve olhar-se para o País como um todo», declarou ainda o autarca".
Naturalmente que o que Santana Lopes disse foi: "Deve olhar-se o país como um TOLO".
“a velhice desce sobre nós
manta de pó
sufocante e húmida
entranha-se
frente à montra
do centro comercial
onde edificámos as vidas
e os ursos
de peluche e as roupas da moda
como não? - da moda, sim -
e os adereços de contas
alegres sombrios
cobrem-se dessas partículas
brancas
que lhes retiram a cintilação
a pouco e pouco

a manta cai sobre nós surpreendida
e estrebuchamos e estrebuchamos para
no Fim
a ajeitarmos a nós fria
e adormecermos
feridos como pássaros abatidos em voo”

jk


13 de janeiro de 2004

MISTÉRIOS
Alguém me explica por que é que nos "debates" televisivos sobre a alteração à lei da criminalização do aborto, aparecem sempre mulheres educadas de classe média a pugnar pela mudança e homens de classe média-alta contra?
(este manhã na sic notícias, as produtoras foram cruéis: meteram uma mulher bonita e sensata a defender novo referendo e do lado da oposição um idiota. Repito, não era um homem, era um idiota de gravata púrpura - em sentido restrito, leia-se)...
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Era mais ou menos isto... mas com som.
RECEBIDA

Enquanto espera que o seu bebé cresça, quentinho, a M. envia-me fotos como esta:
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Lol!

12 de janeiro de 2004

ENSAIO DE PEÇA GASTA SOBRE A CEGUEIRA
"O procurador da República na Madeira, Orlando Ventura, garantiu hoje não ter conhecimento de "quaisquer redes organizadas de pedofilia" na região"
Onde é que eu já ouvi isto...?
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Corro...
entre obrigações escolhidas por mim. Como um puto que dissesse adeus aos pais, enquanto enjoa, feliz, no carrossel de feira.

11 de janeiro de 2004

amanhã, talvez

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LITERATURA ESCOLAR
Ao ajudar a prole no tpc de português, encalho num texto da Luisa Dacosta. Coisa misteriosa, cheia de imagens e metáforas tão obscuras que tive de apelar à licenciatura em letras para descodificar. Graça e interesse não tinha nenhuns, mas ele lá estava, no que deveria ser um momento de "prazer de leitura e descoberta". Ponho-me na pele dos miúdos, mesmo dos que têm a sorte de serem sensibilizados em casa para os livros e dá-me vontade de fugir. É espantoso o entendimento que os organizadores de livros escolares têm de "Literatura Infantil". Julgo que será qualquer coisa como "objecto obscuro, porém poético, em que a presença de nuvens, crianças ou bichos inteligentes é obrigatória". Ou seja, não percebem um boi do que é um bom livro infantil. No que não estão sozinhos. Nunca vi um país em que se alimentasse as crianças com tanto lixo poético como este. Falam das "margaridas"? Deveriam ver quantas "margaridas" não foçam no meia de ilustrações frequentemente boas...
ps: Cito o texto dessa autora, mas muitos outros o acompanham. Ou não fosse verdadeiro o ditado sobre o medo da solidão das desgraças...
SMOKE NOT SMOKE

Aborrece-me dizer isto aos meus amigos que fumam como chaminés, mas um dia destes mesmo no portuguesinho burgo teremos de mudar de comportamento. Não é possível continuar a almoçar em lugares públicos rodeado de famílias, crianças, comida e o fumo de dezenas de cigarros vizinhos. Não é possível continuar a ver passar em carros fechados pais de cigarro na boca, os filhos amarrados (quando estão) no banco de trás e depois ouvi-los protestar contra os perigos da sociedade moderna. Um dia teremos de enfrentar esta coisa tão simples que consiste no facto de uma minoria (30% da população portuguesa, segundo as últimas estatísticas - sendo a maioria mulheres jovens entre os 15 e os 35) forçar a maioria a partilhar da sua depedência. Lamento, mas mesmos os políticos que sabem exactamente o lucro que dão os impostos sobre o tabaco, e o prazer/remédio-anti-stress do mesmo, terão de meter a mão na consciência.
Não se trata de discutir a Coisa. A Coisa é o que é. Houve um tempo para fumar em toda a parte que acabou. Ponto.

8 de janeiro de 2004

CRÓNICA DOS DIAS QUE PASSAM
Bastaria olhar para um dos nossos dias para compreender o sentido da vida. As horas boas, as más. A alegria simples e a tristeza inesperada. O contentamento da descoberta e a frustração da perda. A irritação contra as pequenas coisas e a piedade universal pelas coisas do mundo.
Se isto não fala connosco então é porque andamos com os olhos colados às biqueiras dos sapatos.

7 de janeiro de 2004

LISBOA COM NUVENS
Hoje andava quase tudo maldisposto na cidade. Nos restaurantes os criados atiravam com as ementas para cima das mesas, nas lojas as velhas donas berravam que não queriam os .60 ct (de facilitação de trocos) para nada, e na paragem dos autocarros os utentes davam razão ao desconsolado sindicalista que ontem se queixava que "os passageiros estão a sofrer uma campanha de desinformação sobre a greve", daí andarem chateados como o facto de quase todos os dias haver uma.
Deve ser do tempo. Espero que no resto do país e do mundo (gentil aceno aos leitores ultramarinos e intercontinentais) as coisas tenham sido mais agradáveis.
ps: Irra! (desabafo, um pouco tardio, nem por isso menos sincero).
BOMBEIRADAS
Já tenho falado sobre o Centro Em Movimento. CEM, para os amigos, que são muitos. Já escrevi sobre este centro, em vários sítios. Para os que moram mais longe, ou têm andado distraídos nos últimos anos, informo que é uma Escola ao Contrário. Isto é, não se vai lá contrariado empinar coisas que não queremos. Vamos lá aprender (ou ensinar) o que nos apetece. E quase não se cobra por isso. E assim tem sido.
No 4º andar do prédio dos Bombeiros da Praça da Alegria, todo o dia e parte da noite, uma multidão que se reveza, dança, escreve, faz teatro. Em condições pobres como um circo. E ainda assim teima. E ainda assim todos os cursos estão cheios. Alguma razão haverá.
Ultimamente a bombeirada, que alugava a salinha de caca por uma fortuna (que imagino servirá para estourar nos eternos carapaus fritos com que empestam o prédio toda a semana, ou para comprarem mais cadeiras onde sentam os cus suficentemente ociosos, mudou de ideias. Querem a salinha de volta. Precisam de mais um espacito. Sabe Deus para quê e quanto custará ao erário público esse acréscimo de dolce fare niente...
E mais não digo, ou passará a ideia que eu acho as corporações de bombeiros portuguesas como grupos que se encontram em tascas decoradas a vermelho e com machadinhas, onde eles fogem à tagarelice das esposas. O que não é 100% verdade. No máximo, uns 90%.
Adiante. O que interessa é que a escola anda à procura de um novo espaço. Como as instituições públicas se estão a cagar para pessoas que manifestamente desprezam o lucro ou o pedinchar servil, lanço o apelo. Se souberem de algum espaço em Lisboa que possa receber este grupo de gente valorosa, não guardem segredo. Eles estão aqui. E nós estamos com eles.

5 de janeiro de 2004

CASTELO RODRIGO
Já o disse várias vezes: Portugal só poderá crescer de dentro para fora. D. Sebastião nunca mais vai voltar, por isso já era tempo de crescermos e começarmos a fazer em vez de lamentar.
Das Beiras, mais precisamente de Castelo Rodrigo, chega-me o convite e a notícia de um projecto ficcional. Algo que se pretende alargado e ao mesmo tempo sem soltar os pés do solo que lhe deu começo. Um abraço e votos de felicidades para os promotores do Cantinho. Sabendo que um canto é por definição, o Universo às avessas ;)
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O meu signo para 2004 jura que não vou ter uma vida facilitada. Aponta para um ano de muito trabalho e pouco rendimento.
Raios me partam, se não é a Ferreira Leite que anda a escrever para os jornais sob o pseudónimo "Luna"!
DIZER BEM E MAL

Somos um país tão pequenino, tão pequenino, que nos assemelhamos muitas vezes a concorrentes do BB: 4 paredes, 10 milhões de moradores e milhares de câmaras. Daí que haja esta tendência para dizer primeiro as coisas que nos irritam nos outros. E só depois, eventualmente, enumerar as qualidades e confessar que temos muitas saudades sempre que "saímos da casa" (ou, como diria o Nando, vencedor de Corroios, "É assim, prontoz!").
Foi por isso que não mencionei antes o filme de Jim Sheridan, "In America". O trailer prometia uma obra brilhante e intimista. Quase que conseguia o segundo objectivo. Não fosse a objectiva ter-se deslumbrado com os postais de NY ou o guião pedir ao actor principal (Paddy Considine) que representasse algumas cenas para as quais - obviamente - não tinha arcaboiço e teria sido diferente. Ainda assim, arranca bem e tem algumas cenas com interesse.

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ps: Por falar em arrancar, amanhã começa a "2" (estou ansioso pela novidade das entrevistas da Margarida M. de Melo...). Referi aqui que o magazine se chamaria "Index". Foi este o nome divulgado até há pouco tempo. Mas parece que se chamará... "Magazine". Seja lá o que for... Que venha melhor que o antecessor, é o que se pede. Ponto.

3 de janeiro de 2004

E POR FALAR NO NOSSO SEMANÁRIO...
Uma das minhas páginas favoritas do suplemento "Actual" é a crónica de Pedro D'Anunciação. Há qualquer coisa que me vicia nesta proposta de comentário televisivo. Hesito entre as garbosas suíças e o apostrophe do "D' "...
Na sua prosa queirosiano-prosaica, deambula esta semana entre o tema "Sociedade Civil" (onde fala do "Dois") e a questão do Aborto. De salientar o momento de elogio ao programa da NTV (onde se prova que sou eu que tenho a televisão avariada, já que - ligue para lá a que horas ligar - levo com os inteligentes e nada arrogantes meninos do XPTO...) "Livro Aberto" da autoria de JOSÉ MANUEL Viegas.
Numa página chamada "zapping", percebe-se. Mudar de canais constantemente só nos pode deixar confusos...
BACK ON BUSINESS
Mudar os números para a agenda nova.
Apontar os 1600 assuntos para resolver nos próximos meses.
Tomar café com os amigos.
Sanar mal-entendidos.
Passar em revista as decisões para 2004.
Comprar o Expresso...
Ver que está tudo na mesma!|